sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dia dos Pais. Uma data passada


Centro luterano, Bom Jesus Ielusc, 12 de agosto. Saí da faculdade às 22 horas de um dia estúpido, burlesco. Passos lentos e pés fustigados por causa de um dia inteiro calçando sapatos tamanho 38, calço 39/40.
 
Há 20 metros da minha casa, avisto meu cachorro Toby. Cão dócil, vira-lata, mas amigo. Ao me aproximar do animal, que pula alegremente para cima de mim, exausto, evito o coitado, que ficou o dia sozinho e sem a atenção do dono.

Ao entrar em casa, vejo pilhas de louça suja sobre a pia, provavelmente desde o almoço. Me aproximo da sala de jantar, tentando algum contato humano ou semelhante. Nada, ninguém à vista.


A porta do meu quarto está aberta. Primeira violação: ninguém entra em meu quarto sem pedir permissão, de modo que fixei uma placa com os dizeres: “proibida entrada de estranhos”. Em meu cômodo, aparentemente tudo intacto. Nada foi mexido. Na escrivaninha, um trabalho escolar sobre eletrostática. Assim, como eu, um condutor de eletricidade negativa.


Examinando meu quarto com mais atenção, constatei que meu armário fora arrombado. Averiguando a cena do crime e estranhando o acontecimento, sigo euforicamente até o quarto dos meus irmãos. Hummm, algo de errado. Gavetas e armários remexidos, roupas sobre a cama, papéis e mais papéis jogados no chão. O que deve ter acontecido?


Percorro rapidamente o corredor até chegar ao quarto dos meus pais (frequência cardíaca 137bpm) e constato sinais de arrombamento: gavetas, portas e armários. Com essa visão assombrosa, um impulso eletromagnético me conduz rapidamente para o lado de fora da casa.


Opa! Vestígios. Marcas de pneu de veículo quatro rodas sobre a calçada e várias pegadas de um animal bípede, da espécie humana. Ainda não encontrei as respostas que precisava. Onde estariam os moradores desta casa?


Ao mesmo tempo em que essa pergunta vem à tona, toca o telefone. Ah, só pode ser eles. Corro rapidamente para a sala, ao qual se encontra o aparelho, atendo, ainda ofegante pela ação.


- Pe... Pedro, boa tarde. Espantado pelos acontecimentos, tenho dificuldade com a pronuncia de meu próprio nome.


- Alô, Pedro! Uma voz feminina na linha me parece familiar.


- Alô, quem fala? Pergunto, com dúvida da identidade da pessoa.


- Olá, sou eu, sua mãe. Querido, não fique preocupado, estamos todos bem. Estamos na delegacia para prestar depoimentos, pois seu pai foi preso novamente.


- Oh, não, novamente mãe? Evidente, mais um ano sem pai.


- Querido, não se apavore, já passamos por isso outras vezes, agora tenho que desligar, tchau!


A ligação é interrompida subitamente e bruscamente. Desligo o telefone obsoleto em minhas mãos e sigo para o meu quarto. Fecho a porta e ligo o som, abro a gaveta e tiro um embrulho feito por mim. Mi-nu-cio-sa-mente retiro o pacote que envolve o objeto. Frio em minhas mãos, ele pesa. O que faço com ele?


Nenhuma ideia me ocorre no momento, não posso deixá-lo aqui, enfio dentro da mochila e saio para a rua. Encontro uma lata de lixo e deposito-o nela. Não, não posso fazer isso. Retiro o artefato e sigo de volta para casa, abro a gaveta e guardo em um lugar seguro para que ninguém possa mexer.


Quando meu pai sair da prisão, eu entregarei o relógio que comprei para ele não perder a hora de chegar em casa. Esse meu presente do Dias dos Pais ficará para depois. Meu pai terá que esperar.
 
Jonatar Evaristo, estudante do 4º período de Jornalismo
jonatarevaristo@hotmail.com

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma descoberta e uma ‘discoberta’. Sutil e mágica semelhança.

Tudo aconteceu em 1964. Meu pai, oficial brasileiro da ONU e das forças de paz, me traz de Londres 4 compactos sabendo do meu amor pela música. Foram 4 Lps simples daqueles com um furinho no meio: um do Elvis Presley , um dos Beatles ( lado A com Love me Do e lado B com P.S. I love you). Mais tinha dois outros que me intrigaram. Um era de uma cantora francesa chamada Dalida, de quem nunca tinha ouvido falar e a outro era de uma cantora negra, chamada Mahalia Jackson. Imaginem uma menina brasileira de apenas 12 anos, com muitas poesias guardadas na gaveta e sonhos escancaradamente ousados em predileção por músicas, que despovoavam cabecinhas daquela época... E disposta, muito disposta a fazer descobertas musicais que não se resumiam a Jovem Guarda, ou mesmo aos quatro cabeludos de Liverpool. E lá fui eu rumo à biblioteca da minha escola tentar saber, desses nomes que me encantavam. Ah! Se naquela época tivéssemos o Google ou a Wikipédia... Depois de muitas idas e vindas e muitas expulsões da biblioteca pelo excesso de leituras em horários inadequados, consegui saber que em 1937, com 26 anos, Mahalia, nascida em Nova Orleans, gravou seu primeiro disco sob o selo The Decca Coral. E as músicas eram: "God's Gonna Separate the Wheat from the Tares," "My Lord," "Keep Me every day," and "God Shall Wipe All Tears Away". O disco não foi um sucesso financeiro e o Decca Coral não renovou. Em 1947 (dez anos depois), ela gravou com o selo Apollo a música "Move On Up A Little Higher", um sucesso tão grande que vendeu 8 milhões de cópias, esgotando em todas as lojas. A música entrou para o Hall da Fama dos prêmios Grammy somente em 1998. Fato que saberia muitos anos depois. Mas as músicas do compacto eram: lado A, My Lord e lado B, Move on Up a Little Higher. Não me importa se Mahalia era uma cantora gospell, era a sua voz potente e harmoniosa que me levava a encantos musicais infinitos. Mas também era importante saber que: no princípio, foram surgindo os cantos de trabalho, depois vieram o spiritual, o blues, a marcha e o ragtime. “No sétimo dia, em New Orleans, todos se fundiram para criar o jazz”, e soube que nunca mais viveria sem ele colado magicamente aos meus ouvidos. E me fascine Louis Armstrong, Billie Holiday, Al Jonson, Ella Fitzgerald, Joe Williams, Sarah Vaughan, Ernestine Anderson, Diana Krall, Anita O’Day e Cassandra Wilson, como diria o Jô Soares, todos os dias de minha existência. E há pouco tempo descobri, fiz uma ‘discoberta’ da linda e talentosa Bia Sion e seu CD ‘ A Levada do Jazz’, fruto de seu show com o mesmo nome. Esta ‘cantriz’ como ela mesma se denomina, diz: “em mim habitam todas as cantoras de jazz que desde sempre escutei”. E ratifico com alegria jazzística o que ela mesma escreveu no CD que carinhosamente me enviou: Let’s Jazz! Um certo Adorno, nas suas teorias na Indústria Cultural, disse que o jazz era um equívoco cultural e musical. A resistência de Adorno ao jazz pode ser interpretada de várias formas. Em 2003 foi publicado o livro de Christian Bèthume, “Adorno et le jazz et une analyse d’um dèni esthétique”, onde se explica o engano do teórico com as minúcias necessárias. Como disse André Midani, que lançou recentemente seu livro Música Ídolos e Poder: do vinil ao dowload, “o disco de Bia me alegrou a segunda-feira”. A mim, também as terças, as quartas, as quintas, as sextas, os sábados e os domingos. Emocione sua alma você também! Cheek to Cheek by Bia Sion www.reverbnation.com Bia Sion | Jazz | Rio de Janeiro, RJ, BR
Ana Simões é jornalista, publicitária e professora da disciplina de Jornalismo Cultural na Associação Luterana de Ensino em Joinville (SC).

Fontes: http://andremidani.blogspot.com e http://www.midani.com.br, http://programadojo. globo.com/platb/blog-do-jo e www.bia-sion.com

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O talento que pode começar cedo



Por Diego Porcincula

Foto: Claudia Baartsch/ Agência RBS

A idade e o tamanho são novidade nos palcos de Joinville. A experiência de enfrentar um palco e uma plateia ainda não foi vivenciada. Para quem gosta de teatro, tem uma opção bem diferente para conferir. Os atores têm entre cinco e 14 anos e são alunos de escolas municipais da cidade. Esses meninos e meninas fazem parte do curso de formação em teatro da companhia Casa Teatral.

Os 70 alunos acompanharam juntos aulas de interpretação, cenário, figurino e iluminação. A dificuldade de convivência já foi vencida, agora é hora de perder o medo dos palcos, principalmente o do Teatro Juarez Machado onde acontecem as apresentações. Para a diretora Daniele Pamplona o objetivo é que os alunos viam a experiência de um espetáculo. “Queremos que eles vivenciem um festival e que passem o dia todo envolvidos na realização das apresentações”, fala. Os alunos são divididos em sete núcleos respeitando a faixa de idade de cada um. Cada grupo fica responsável pelo espetáculo.

Ontem foram exibidos quatro trabalhos e, hoje, são mais três. Entre as atrações estão adaptações como “Casa das Bonecas”, “A Princesa Divinha” e “Bailei na Curva”. Para a sessão de hoje, às 19h30, o publico pode reservar ingressos pelos telefones (47)3437-3087 e (47)8827-1585. A entrada é franca.

O projeto teve início no começo do ano e acontecem na Escola Municipal Paul Harris e Oficina dos Sonhos. São oferecidos aos alunos aulas de iniciação teatral, interpretação, práticas corporais e vocais, teoria teatral e práticas de montagem. O festival foi custeado com arrecadações da companhia e auxílio dos pais dos alunos. Para 2012, a ideia é expandir o projeto para as demais escolas da maior cidade do Estado.


Serviço
O QUÊ: 1º Festival da Casa.
QUANDO: Terça-feira, às 15 horas e 19h30.
ONDE: Teatro Juarez Machado, Avenida Beira-rio, 315, América.
QUANTO: Gratuito. Reserva de ingressos pelo (47)3437-3087 begin_of_the_skype_highlighting            (47)3437-3087      end_of_the_skype_highlighting e (47) 8827-1585 begin_of_the_skype_highlighting            (47) 8827-1585      end_of_the_skype_highlighting

sábado, 19 de novembro de 2011

Danças Urbanas - Um movimento cultural

Um dos gêneros mais populares do festival agora é chamado de danças urbanas

 

      Todos os anos, a rotina é a mesma. Ensaio após ensaio, bailarinos dão o melhor de si, em troca da incansável busca pela “perfeição” da coreografia. Desde 2009 reconhecido pelo Guiness Book como o maior evento de dança do mundo, o festival joinvilense está sempre atento às novidades nesse meio.

      Neste ano, importantes melhorias foram feitas. Um exemplo é a alteração do nome de um dos gêneros mais populares do evento: dança de rua agora se chama “danças urbanas”, justificando a identidade de uma cultura urbana forte e cada vez mais consolidada no Brasil. Segundo dançarinos, o nome dança de rua traz uma visão negativa sobre o gênero e a mudança do nome é para amenizar o preconceito sofrido pelas pessoas que trabalham com essa arte. “Só de ouvir o termo, as pessoas imaginavam que a dança se fazia na rua, e muitos até mesmo do meio da dança aceitaram isso como verdade”, relata André “Bidu”, coreógrafo do grupo D-Efeitos, ganhador do programa “Qual é o seu talento?” do SBT. E ainda complementa: “As danças não foram criadas nas ruas apenas, mas também nos clubes, encontros sociais informais, festas e noitadas”.

      As danças urbanas surgiram nos Estados Unidos, embaladas pela música funk/soul americana. Usando essas músicas, dançarinos improvisavam em cima de bases criadas, individualmente ou em conjunto, em clubes, praças, batalhas de dança etc. Outros dançarinos copiavam e passavam essas bases à frente. “As danças foram resultado de movimentos culturais musicais e, a cada criação de um novo estilo de música, uma nova dança surgia”, explica Franco André Pereira, conhecido no meio como Frank Ejara, coreógrafo da Cia. Discípulos do Ritmo.

      Todas as danças urbanas são improvisáveis, pois foram criadas com o intuito de cada dançarino colocar a sua movimentação nas bases. É a essência do “urbano”. Hoje, são usados ritmos como R&B, Disco Funk, Disco, Rap, G Funk, Eletro, House Music e Dancehall. Com essas músicas, surgiram os estilos Locking, Popping, Waacking, Boogaloo, Waving, Tutting, Strutting, B.Boying, House Dance, Hip Hop Freestyle, Krump e Dancehall.


Os estilos Waacking e Vogue - DIVULGAÇÃO


      O cenário do Hip Hop no Brasil, sofreu preconceito de pessoas que desconhecem a história cultural do ritmo. Quem é envolvido com a cultura era visto por muitos como marginal. “Ainda existe preconceito com todos os elementos e formas de manifestação, mas já houve uma melhora significativa”, afirma Filipi Moura Lima, professor de danças urbanas.

      A falta de reconhecimento no país é o contrário da realidade no exterior. Os dançarinos, grafiteiros e mc’s brasileiros têm um reconhecimento grande nos países estrangeiros. “O Brasil está engatinhando no segmento, mas com grupos muito bons como 'Tsuname all stars' e 'Discípulos do ritmo', que são muito bem vistos no exterior”, declara André “Rockmaster” Pires, professor, coreógrafo e precursor do House Dance e Waacking no Brasil. O dançarino brasileiro é reconhecido por ter “energia de sobra”. O potencial dos praticantes dessa dança melhora cada dia mais, por intermédio de ferramentas como workshops, competições de grupos, batalhas de dança, treinos em conjunto e até mesmo pelo site Youtube, no qual dançarinos do mundo todo postam seus vídeos a fim de compartilhar e divulgar a cultura. “Se unirmos isso a nossa criatividade, as chances de crescer são ainda maiores”, recomenda Filipi.


O Break Dance foi uma das origens das danças urbanas - DIVULGAÇÃO








Por Michelle Braga

Moconevi é homenageado pela Câmara

A luta dos negros pela conquista de um espaço digno e respeitável dentro da sociedade tem data oficial. Em 20 de novembro se comemora no Brasil o Dia da Consciência Negra. A escolha é uma referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, líder dos quilombolas resistentes contra a repressão da Corte Portuguesa.
A data simboliza a resistência à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro, em 1594, e determinação do povo afrodescendente em favor da igualdade racial. O maior objetivo dos movimentos negros pelo país é evitar o autopreconceito, ou seja, a inferiorização perante a sociedade.
A inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, discriminação da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra são assuntos debatidos neste dia, em palestras e eventos em todo o país.
A homenagem da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul foi direcionada ao Moconevi (Movimento de Consciência Negra do Vale do Itapocu), que comemora dez anos de fundação em 5 de agosto. Os idealizadores do movimento acreditavam que, desta maneira, seria possível difundir a história e diminuir ações preconceituosas.
O grupo criador do movimento negro teve como pontapé inicial o episódio ocorrido em Guaramirim. Na ocasião, a enfermeira do hospital do município negou atendimento a uma grávida negra em trabalho de parto. O crime chegou aos ouvidos de Sandra Maciel. A primeira coordenadora do Moconevi relembrou o início, repleto de dificuldades e vitórias.
Ao longo da década, Sandra relatou a necessidade do que ela chama de “emergir das cinzas”. “Parece que tudo em Jaraguá e região já estava muito bem estabelecido. E nós tínhamos que ressurgir com a nossa história, com a nossa cultura, com a nossa música, com os nossos costumes e buscar cada vez mais o respeito”. Sandra disse que sempre foi necessário lutar pelos direitos. “A questão no Brasil não é só social, porque de cada dez pobres, oito são negros. Então a questão é racial. Nós tínhamos que fazer esse enfrentamento e até hoje fizemos”.
De acordo com ela, a cultura hegemônica na qual o Brasil está inserido cria obstáculos muito maiores, pois é mais fácil falar para as crianças nas escolas da cultura já instituída e deixar de lado a questão da escravidão. Segundo Sandra, falar para as crianças do que é ser escravo causa sensibilidade e fortalece o conhecimento real da história do Brasil.
O propositor da homenagem, Francisco Alves exaltou o compromisso de todos que abraçaram a causa. “Somos parte dessa história. Uma história que começou há dez anos. História escrita por todos os brasileiros, todas as etnias, inclusive a negra, sendo tratada por mais de três séculos como mercadoria”. O primeiro vereador negro recordou a história, fazendo menção ao maior líder negro, o Zumbi dos Palmares, na luta pela liberdade.
A participação em diversos eventos voltados ao resgate da cultura afro em todos os sentidos e a grande participação na educação foram mencionados pelo vereador. Francisco disse ainda que o Moconevi veio com o objetivo de resgatar a cultura afro-brasileira, os costumes e, principalmente, dar visibilidade e conquistar respeito ao povo que, muitas vezes, continua esquecido. A participação em diversos eventos voltados ao resgate da cultura afro em todos os sentidos e a grande participação na educação foram mencionados pelo vereador.

Por Tiffani Louise dos Santos

Ação X Superação

O Cepe (Centro Esportivo para Pessoas Especiais) atende adultos e crianças portadores de necessidades especiais, que gostam de praticar esportes. O centro disponibiliza as modalidades de natação, bocha, atletismo e basquete em cadeira de rodas.

A técnica de natação Juliana de Carvalho conta que faz parte deste projeto há 6 anos e há 4 anos trabalha com natação olímpica. A modalidade atinge o público a partir dos 12 anos no Panamericano ou competições.
Na natação existe uma classificação funcional que vai do s1 ao s10, que significa swiming, natação. Essa classificação depende da funcionalidade do atleta, quanto maior o grau da deficiência, menor o número de sua classificação. Por exemplo, s1 é o atleta que possui dificuldade de locomoção e limitação dos movimentos. Um s10 é o atleta que tem apenas um encurtamento, pé eguineo.
A natação paraolímpica do Cepe atende desde a iniciação até os de alto rendimento. Atletas de níveis regionais, estaduais, nacionais e também, internacionais.

Para a atleta paraolímpica e vice-presidente do Cepe, Michele Regina Linzmeyer, o esporte adaptado é importante não só para o corpo mas, também para a auto-estima. “A natação me ajudou muito a melhorar o meu corpo, pois eu era mais gordinha antes de começar a nadar.”



Os treinamentos acontecem todos os dias, no período de uma hora e meia à duas horas. Como o centro esportivo não possui uma piscina própria, o Cepe possui parcerias com várias piscinas de Joinville. Como o atleta de competição necessita de acompanhamento multidisciplinar, os atletas recebem auxílio em parceria com o Ielusc, através de acompanhamento nutricional.



Ação e superação, elementos que fazem parte da rotina de quem participa do Cepe.



Por Andréia da Silva


Entre a poesia e o mundo marginal

Na literatura e no cinema, Jorge Amado expõe a desigualdade social, sem deixar a literatura poética de lado

Jorge Amado sempre foi um dos meus preferidos. Eu nunca fui à Bahia. Nunca comprei acarajé de uma baiana nata, nem andei pelo Pelourinho com o pulso cerrado por fitinhas
do Senhor do Bonfim. Mas conheço bem o sol escaldante da terra de todos os santos e o
macio de seu areal. Jorge Amado me fez conhecer um pedacinho do nordeste através da
sua literatura envolvente; sua poesia safada mesclada com crítica social.

Caminhando pelas novidades cinematográficas, esbarro em título chamativo –
geralmente meus olhos se magnetizam pelos nacionais: Capitães de Areia. O baiano
novamente ultrapassa o papel e invade o audiovisual? Sempre digno de atenção
redobrada. Puxei da estante um dos maiores clássicos, não só da lista do autor, mas de
toda literatura brasileira, e morei por alguns dias no trapiche que abriga os meninos que
dão vida ao livro do amado Jorge.

Sempre uma surpresa, mas ao mesmo tempo algo previsível. Afinal, estar diante de
um romance de Jorge é ter a certeza de que será envolvido por todos os lados, sem
escapatória, mas nunca se sabe o que esperar da próxima página, qual a delícia literária
que vai te abraçar fortemente.

Em Capitães de Areia não é diferente. O leitor se envolve em cada pequena história
dos grandes, apesar da pouca idade, meninos baianos. Em capítulos curtos, peripécias
romanescas, aventuras que apostam na sorte e idealização do tipo humilde e excluído
vão construindo a trama que traz à tona a desigualdade social. Um mundo que deixa
claro quem é rico e quem é pobre nos é jogado na cara, sem perder a sutileza das
palavras escolhidas a dedos pelo autor.

O mais impressionante é a atualidade do livro. O assunto e as questões sociais que
Capitães de Areia traz em outra época têm a mesma validade nos dias de hoje. A
história de crianças de rua de oito a dezesseis anos, filhos apenas da marginalidade e
da pobreza, é explorada com profundidade nas terras da Bahia, mas a mesma situação
se espalha em tantas outras cidades brasileiras. Em condições precárias de vida,
submetem-se ao roubo e outros delitos para conseguir sobreviver dia após dia. Ao
decorrer da leitura, Pedro Bala, Professor, Gato, João Grande, Pirulito, Volta Seca, Dora
e tantas outras crianças, reflexos da narrativa, nos envolvem até com o livro fechado.

Jorge Amado não manifesta piedade ou condescendência pelos seus “delinquentes”,
mas traz momentos em que a infância e os sonhos de crianças, como no encontro com
o “carrossel com as luzes coloridas”, fazem-nos enxergar que são apenas crianças
vítimas da ausência da família, da escola, da vida nos cortiços e nas favelas, como tantas
outras longes das páginas literárias.

Pela temática atual e por cumprir com o papel da literatura de ser crítica e bela ao
mesmo tempo, a obra Capitães de Areia carrega dignidade de sobra para ir ao cinema,
mesmo tanto tempo depois de ser escrita.



Texto: Jaqueline Dias