Tudo aconteceu em 1964. Meu pai, oficial brasileiro da ONU e das forças de paz, me traz de Londres 4 compactos sabendo do meu amor pela música. Foram 4 Lps simples daqueles com um furinho no meio: um do Elvis Presley , um dos Beatles ( lado A com Love me Do e lado B com P.S. I love you). Mais tinha dois outros que me intrigaram. Um era de uma cantora francesa chamada Dalida, de quem nunca tinha ouvido falar e a outro era de uma cantora negra, chamada Mahalia Jackson. Imaginem uma menina brasileira de apenas 12 anos, com muitas poesias guardadas na gaveta e sonhos escancaradamente ousados em predileção por músicas, que despovoavam cabecinhas daquela época... E disposta, muito disposta a fazer descobertas musicais que não se resumiam a Jovem Guarda, ou mesmo aos quatro cabeludos de Liverpool. E lá fui eu rumo à biblioteca da minha escola tentar saber, desses nomes que me encantavam. Ah! Se naquela época tivéssemos o Google ou a Wikipédia... Depois de muitas idas e vindas e muitas expulsões da biblioteca pelo excesso de leituras em horários inadequados, consegui saber que em 1937, com 26 anos, Mahalia, nascida em Nova Orleans, gravou seu primeiro disco sob o selo The Decca Coral. E as músicas eram: "God's Gonna Separate the Wheat from the Tares," "My Lord," "Keep Me every day," and "God Shall Wipe All Tears Away". O disco não foi um sucesso financeiro e o Decca Coral não renovou. Em 1947 (dez anos depois), ela gravou com o selo Apollo a música "Move On Up A Little Higher", um sucesso tão grande que vendeu 8 milhões de cópias, esgotando em todas as lojas. A música entrou para o Hall da Fama dos prêmios Grammy somente em 1998. Fato que saberia muitos anos depois. Mas as músicas do compacto eram: lado A, My Lord e lado B, Move on Up a Little Higher. Não me importa se Mahalia era uma cantora gospell, era a sua voz potente e harmoniosa que me levava a encantos musicais infinitos. Mas também era importante saber que: no princípio, foram surgindo os cantos de trabalho, depois vieram o spiritual, o blues, a marcha e o ragtime. “No sétimo dia, em New Orleans, todos se fundiram para criar o jazz”, e soube que nunca mais viveria sem ele colado magicamente aos meus ouvidos. E me fascine Louis Armstrong, Billie Holiday, Al Jonson, Ella Fitzgerald, Joe Williams, Sarah Vaughan, Ernestine Anderson, Diana Krall, Anita O’Day e Cassandra Wilson, como diria o Jô Soares, todos os dias de minha existência. E há pouco tempo descobri, fiz uma ‘discoberta’ da linda e talentosa Bia Sion e seu CD ‘ A Levada do Jazz’, fruto de seu show com o mesmo nome. Esta ‘cantriz’ como ela mesma se denomina, diz: “em mim habitam todas as cantoras de jazz que desde sempre escutei”. E ratifico com alegria jazzística o que ela mesma escreveu no CD que carinhosamente me enviou: Let’s Jazz! Um certo Adorno, nas suas teorias na Indústria Cultural, disse que o jazz era um equívoco cultural e musical. A resistência de Adorno ao jazz pode ser interpretada de várias formas. Em 2003 foi publicado o livro de Christian Bèthume, “Adorno et le jazz et une analyse d’um dèni esthétique”, onde se explica o engano do teórico com as minúcias necessárias. Como disse André Midani, que lançou recentemente seu livro Música Ídolos e Poder: do vinil ao dowload, “o disco de Bia me alegrou a segunda-feira”. A mim, também as terças, as quartas, as quintas, as sextas, os sábados e os domingos. Emocione sua alma você também! Cheek to Cheek by Bia Sion www.reverbnation.com Bia Sion | Jazz | Rio de Janeiro, RJ, BR
Ana Simões é jornalista, publicitária e professora da disciplina de Jornalismo Cultural na Associação Luterana de Ensino em Joinville (SC).
Fontes: http://andremidani.blogspot.com e http://www.midani.com.br, http://programadojo. globo.com/platb/blog-do-jo e www.bia-sion.com
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